Oito meses num gráfico
Este gráfico do Wall Street Journal é uma boa ilustração e resumo das primárias democratas. O artigo faz uma excelente autópsia da campanha de Clinton. (via Andrew Sullivan):
História do presente
Neste caso o cliché justifica-se: foi uma campanha histórica, foi uma vitória histórica, é um dia histórico.
Imagem: Business Week
Petraeus
O General Petraeus e o embaixador Crocker estão nestes dias a explicar os desenvolvimentos no Iraque ao Comité de Relações Internacionais do Senado (com a presença dos três candidatos à Presidência dos EUA). O depoimento inicial de Petraeus aqui. Comentários aqui, aqui e aqui. Vale a pena também ver a apresentação que Petraeus trouxe ao Senado – Petraeus (via Newsweek). Interessante igualmente recordar o que Petraeus dizia em 2004 sobre o mesmo assunto:
There will be more tough times, frustration and disappointment along the way. It is likely that insurgent attacks will escalate as Iraq’s elections approach. Iraq’s security forces are, however, developing steadily and they are in the fight. Momentum has gathered in recent months. With strong Iraqi leaders out front and with continued coalition – and now NATO – support, this trend will continue. It will not be easy, but few worthwhile things are.
Gerir o terrorismo
Durante a sua campanha presidencial em 2004, John Kerry foi muito atacado devido ao que disse sobre terrorismo numa entrevista no New York Times:
When I asked Kerry what it would take for Americans to feel safe again, he displayed a much less apocalyptic worldview. ”We have to get back to the place we were, where terrorists are not the focus of our lives, but they’re a nuisance,” Kerry said
Esta posição faz muito sentido mas era demasiado realista (e politicamente insensata) num contexto no qual o 11 de Setembro estava emocionalmente mais presente do que hoje. A escolha da palavra “nuisance” também não foi das mais felizes.
A frase foi ampla e cinicamente explorada por Rove e companhia, como exemplo da insensibilidade de Kerry.
Passados quatro anos, a questão ainda é delicada e seguramente não veremos os actuais candidatos a cometer o mesmo erro. Mas cada vez mais, principalmente no meio académico, as pessoas começam a compreender o que Kerry queria dizer com “nuisance”. A ideia é precisamente evitar o tipo de retórica e de “politics of fear” propagada pela actual administração. Fazer do terrorismo o foco central da acção de uma democracia é jogar o jogo dos terroristas, pois estes agradecem ser fonte de obsessão. Por último, o discurso emotivo à volta da questão, compreendendo-se em parte, tende a resvalar para absolutos morais e proclamações inflamadas e estas perjudicam a gestão do dia a dia do combate ao terrorismo.
Uma das vozes mais calmas e lúcidas nesta questão é a de Jeremy Shapiro, da Brookings Institution. Num interessante position paper, Shapiro aponta os custos deste discurso emotivo e apresenta um conjunto de recomendações:
There have been no terrorist attacks in the United States since 9/11, but it is far from clear whether the government’s efforts have made the difference. Policy discussions of homeland security issues are driven not by rigorous analysis but by fear, perceptions of past mistakes, pork-barrel politics, and insistence on an invulnerability that cannot possibly be achieved. It’s time for a new, more analytic, threat-based approach, grounded in concepts of sufficiency, prioritization, and measured effectiveness.
Faith-based economics
Com duvidoso sucesso, os choques fiscais de redução de impostos foram introduzidos pela primeira vez nos EUA por Ronald Reagan. Kevin Hassett, actual assessor económico de John McCain, explica o porquê destes choques:
What really happens is that the economy grows more vigorously when you lower tax rates. It is beyond the reach of economic science to explain precisely why that happens, but it does.
Esta política que espera aumentar as receitas fiscais apesar da redução das taxas ficou conhecida por supply-side economics, em oposição à keynesiana demand-side economics. Segundo Dani Rodrik, depois do comentário de Hassett, deveria no entanto actualizar o seu nome: de supply-side economics deveria passar a faith-based economics!
É grave
Martin Feldstein, Presidente do National Bureau of Economic Research, afirmou perante uma plateia de investidores que a situação económica nos EUA é muito complicada, podendo esta ser a recessão americana mais grave desde a segunda Guerra Mundial!
The situation is very bad, the situation is getting worse, and the risks are that it could get very bad. There’s no doubt that this year and next year are going to be very difficult years.
Tendo em consideração que o NBER apenas confirma oficialmente uma recessão 6 a 18 meses depois desta se ter iniciado, é preocupante que o seu Presidente tenha neste momento este discurso tão alarmista.
Read My Lips
Bill Clinton elevou o “sorriso invertido” a uma forma de arte. Usava-o em momentos emotivos e quando pedia desculpa à nação pelo seu comportamento. Não o estou a acusar de cínico – toda a política tem algo de teatral. E este “sorriso” transmite emoção, contenção e arrependimento. Há inúmeros exemplos na internet, como este:
Pelos vistos Clinton deixou escola, como se vê na fotografia mais em voga para ilustrar a notícia do momento:
As fotografias mostram também como neste skill, como em tantos outros, o “mestre” tende a ser mais subtil que o “discípulo”…
Hipocrise
Nas últimas horas os jornais americanos só falam do escândalo que envolve o governador democrata de Nova Iorque, Eliot Spitzer, que aparentemente tinha ligações a uma rede de prostituição. Mas a verdadeira notícia é a hipocrisia de um dos mais moralistas políticos americanos.
Ao contrário do retrato apressado que se faz deste lado do Atlântico, os políticos moralistas não estão apenas na direita evangélica. Também os há no partido democrata. As causas de Spitzer eram os abusos e ilegalidades dos CEOs das grandes empresas de Wall Street e as redes de crime organizado. Eram estas as grandes batalhas e as bandeiras nas suas campanhas para o cargo de district attorney e depois para governador. Fazia-o com o zelo do moralista, com declarações inflamadas, alarmistas e justiceiras. Deste modo paga agora mais pela hipocrisia e pela desfaçatez do que pelo acto em si.
E penso que é correcto que seja assim. Andrew Sullivan escreveu ontem no seu blog que “It’s pretty slam-dunk. But I still feel sorry for him. Being human means failing”. Claro que ser humano é falhar mas tratar este assunto apenas como um mero drama pessoal pode obscurecer um importante ponto político – ninguém obrigou Spitzer a assumir uma postura pública completamente oposta à sua prática quotidiana. E a decisão de assumir essa postura foi um acto racional que teve como resultado votos e vitórias eleitorais. Assim, esta história ilustra também uma espécie de fraude eleitoral.
Devo confessar que a queda de um moralista não me provoca grande tristeza.
McCain Hugs Campaign
Ontem foi “hug day”. Bush recebeu McCain e mostrou o seu apoio ao candidato republicano. É questionável se McCain devia dar abraços a Bush nesta fase do campeonato, mas Bush certamente precisa dos (fortes) abraços de McCain. Provavelmente McCain pertence a este movimento – Free Hugs Campaign – que tem como mote o abraço enquanto “selfless act performed by a person for the sole reason of making others feel better” (wikipedia). Se não ganhar a eleição para Presidente dos EUA, McCain já tem com que se entreter na reforma.
PS: Os internautas já descobriram que temos a fotografia de McCain a abraçar Bush aqui e têm usado e abusado do nosso blog.
Fish Map
Como temos descoberto nos últimos anos, o sistema eleitoral americano é confuso e messy. Os problemas têm surgido no processo – os “hanging chads” na Florida em 2000, as suspeitas em relação ao sistema computadorizado de voto (ver esta sátira do The Onion) e as penalizações por primárias antecipadas – mas também fruto das regras do jogo – os superdelegados, os delegados, o colégio eleitoral, etc.
A democracia americana tal como foi concebida pelos founding fathers – Madison, Jefferson, Adams, Franklin, Washintgon, Hamilton e outros – é um dos mais brilhantes feitos da humanidade. E a Europa aprendeu muito e ainda tem muito a aprender com os EUA nesta matéria. Mas um aspecto curioso é que o dia-a-dia da política americana é bastante mais agreste e agressivo do que se poderia pensar. Alguns dos vídeos políticos que temos vindo a compilar mostram este aspecto mais negro e crú da política americana e recorde-se que foi na américa que praticamente se inventou e apurou o uso de campanhas “negativas”. Quanto à demagogia na política, o clássico é “All the King’s Men“, uma obra de ficção de Robert Penn Warren baseado num caso real de “local politics” no sul dos EUA.
Uma das manifestações deste duro processo eleitoral é o chamado gerrymandering, a prática de re-desenhar o mapa dos distritos eleitorais de forma a beneficiar um dado partido ou candidato. O congresso federal é composto por duas câmaras – o Senado, com dois eleitos por cada Estado (para que haja uma representação equitativa de todos os estados, grandes e pequenos) e a Câmara dos Representantes (que compensa o pressuposto anterior criando um órgão mais representativo da população, pois cada membro é eleito pelo mesmo número de pessoas, o que faz com que a Califórnia tenha mais de 40 representantes e Rhode Island tenha só dois, por exemplo). Quando de dez em dez anos se faz um censo à população, a lei dita que se redesenhe os distritos para fazer face a mudanças demográficas e mobilidade interna, pois há que garantir que o distrito continuar a ter mais ou menos o mesmo número de pessoas. O problema é que este processo é aproveitado para criar distritos uniformizados ideológicamente de forma a beneficiar um dos candidatos (normalmente o incumbente). Por exemplo, se uma dada zona nos arredores de uma cidade californiana tem vindo a receber nos últimos dez anos muitas pessoas da cidade, que tradicionalmente votam mais democrata, um dado incumbente repúblicano que tenha como base de apoio os agricultores locais pode ver o seu lugar em perigo. Assim, surgem incentivos para construir distritos a “regra e esquadro” de forma a literalmente apanhar alguns bairros e deixar de fora outros (que o político acha mais incertos ou mais hostis). Assim, quando se vê nos mapas uns “corredores” e umas “penínsulas” suspeitas percebe-se que houve algum trabalho de gerrymandering. Alguns exemplos:
Clinton III
A revista New York Magazine tem um artigo interessante sobre Chelsea Clinton, o seu percurso enquanto figura pública, e como tem vindo a ganhar maturidade para eventualmente seguir os passos dos seus pais na vida política activa. Chelsea fez ontem 28 anos e poderá nos próximos anos ser o alvo principal da atenção política e mediática sobre a dinastia Clinton, caso se confirme o aparente insucesso da campanha da sua mãe a presidente dos EUA. Entre as conclusões do artigo, destaque para:
But after all that she’s been through, is it even conceivable that Chelsea would want to embark on anything like a political career? Most children of people who have been battered like the Clintons have been battered would recoil. Still, Chelsea has shown in the last few months that she is, emphatically, a Clinton. She’s a natural politician, stunningly good at it.
Ralph Nader
Contra o “Corporate Greed, Corporate Power and Corporate Control”, Ralph Nader está a anunciar neste momento no Meet the Press a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos. Segundo sondagens da Gallup, apenas 24% dos americanos estão satisfeitos com os políticos que têm. É esta a plataforma que justifica mais uma candidatura de Nader. O candidato que alegadamente “roubou” a vitória a Gore em 2000, explicou recentemente a Riz Khan as suas opiniões:
Quem disse isto?
Quem disse isto?
We’ve gotten to where we’ve nearly them’d ourselves to death. Them, and them, and them. But this is America. There is no them; there is only us.
Não vale googlar!
Pink fish
Entrevista de Obama à revista côr-de-rosa People:
First concert?
Elton John, when I was 10. The music was terrific, but I didn’t get all the plumage. I guess I get it now.Sonny & Cher or Donny & Marie?
Sonny & Cher, even though Sonny ended up Republican. I thought Cher was pretty hot.Who would you most like to meet?
Bruce Springsteen. He strikes me as a good person.
Vale a pena também ver 5 dos momentos mais divertidos em política dos programas da tarde da televisão americana – Aqui.
Reinventar o republicanismo
Ryan Lizza procura perceber num artigo no The New Yorker se McCain é capaz de reinventar o republicanismo:
In 2000, McCain railed against corporate power and the influence of lobbyists and money in politics. Today, the only mention of corporations in his stump speech is a demand that the corporate-tax rate be lowered. After 2000, McCain seemed briefly to be considering leaving the Republican Party, just as Roosevelt had. But, once terrorism and the war in Iraq became the preeminent issues, he decided instead to take over the Party.
McCain is careful not to mock the broader libertarian right, which makes up a far larger share of his party than Paul’s followers do. Nonetheless, his victory is a repudiation of small-government conservatism, a development not seen in the years of Barry Goldwater, Reagan, and the two Bushes. “For the first time since Eisenhower,” Newt Gingrich told me, “you have someone who has clearly not accommodated the conservative wing winning the nomination. That is a remarkable achievement.”
Em poucas palavras, a hipótese da necessidade de reinvenção resulta dos Estados Unidos estarem a evoluir – maior peso de imigrantes, jovens mais “democratas” que noutros tempos – e do próprio partido estar a evoluir – mais apoio interno para intervenções “eficientes” do Estado em áreas específicas. De qualquer forma, a dúvida fica se McCain chegará a fazer essa reinvenção ou se acabará por ser sobreposto pelo poder da reacção.
He’s got the Power
Na sequência do comentário do António sobre Obama, Brzezinski e companhia limitada, conto uma estória menos conhecida da irlandesa Samantha Power, a face jovem dos conselheiros de política externa do candidato democrata à Casa Branca.
Apesar do currículo aparentemente cheio de sucesso, Samantha tem uma história de ascensão na vida política estadounidense típica de um sonho americano: julgo que por alturas nos anos 90 em que era correspondente jornalística na antiga Jugoslávia, decidiu dedicar-se a estudar o fenómeno do genocídio, tendo-se proposto fazer uma análise sobre o assunto durante 3/4 anos e, no seguimento desse trabalho, escrever um livro sobre o tema. Samantha bateu a todas as portas de editoras e ninguém se mostrou interessado em patrocinar o seu research durante 4 anos sobre genocídio. Depois de momentos de desespero, lá conseguiu uma editora que lhe financiasse esta sua heróica missão. Quando percebeu a dimensão do tema, viu-se na necessidade de dedicar mais tempo ao livro e acabou por só concluir o estudo e o manuscrito inicial após 7 anos de análise! Quando apresentou o trabalho final ao editor, este disse-lhe que já não estava interessado em publicar o livro, porque era muito longo – que ninguém o ía ler.
Samantha aí não baixou os braços e foi novamente de porta em porta apresentar a sua obra e mais uma vez ninguém se mostrou receptivo…até que lá conseguiu após muito esforço quem lhe publicasse o livro. O interessante deste conto é que tem um final feliz, o livro “Problem from Hell: America and the Age of Genocide” acabou por ser aclamado pela crítica, tendo recebido em 2003 o Pulitzer Price. A partir daí, tudo se tornou mais fácil: Samantha conseguiu tenure em Harvard, escreve para a Time e o NY Times, foi conselheira no Senado de Obama em 2005-06 e está pronta a publicar um livro sobre Sérgio Vieira de Mello, de quem diz (via Men’s Vogue):
Sergio has the chance to be the face that we’ve never had—for international law, for international institutions, for the kinds of sacrifices, and just again a paradigm shift.
Em resumo, se Samantha Power não acreditasse piamente no projecto em que se meteu, não estaríamos aqui a escrever sobre ela. Qualquer outra pessoa teria desistido a meio do processo – a persistência naquilo em que se acredita, por vezes paga.
Obama, Brzezinski, Cirincione, Power
Quatro nomes fora do comum que poderão estar no centro da política externa americana nos próximos anos*.
Este artigo faz um bom resumo das diferenças no pensamento sobre política externa dos dois principais candidatos do partido democrata.
Num certo sentido a equipa de Hillary é mais “segura” e mais previsível. É constituida por pessoas que estiveram na administração do marido. A grande figura é Richard Holbrooke, que tem uma enorme experiência de “diplomacia em acção” e é talvez o mais eficaz negociador e mediador diplomático americano. Tanto Holbrooke como as outras figuras da equipa de Hillary são menos “puras” em relação ao Iraque do que as pessoas à volta de Obama, o que é coerente, aliás, com as posições de ambos candidatos. A equipa de Hillary tem sido, em geral, caracterizada como um pouco mais “hawkish” do que a de Obama.
Mas as comparações complicam-se devido à figura central entre os conselheiros de Obama – Zbigniew Brzezinski. Trata-se de uma das personalidades mais interessantes e controversas da diplomacia norte-americana. Se Holbrooke é um homem de acção, Brzezinski é um intelectual. Este anterior National Security Advisor de Carter tem assumido posições complexas e subtis ao longo da sua carreira e levanta mais incógnitas do que os outros advisers, tanto de Clinton como de Obama. Um aparte: não deixa de ser extraordinário que grande parte da força intelectual ainda dominante na política externa americana tenha sido lançada, para o bem e para o mal, por Nixon/Gerald Ford e por Carter – não me lembro de mais nenhuma área política dominada ainda por personalidades dessa época. Tanto a administração Bush I e II como a Clinton I e a possível Clinton II ou Obama I (e talvez daqui a uma decada e meia Obama II, com a Michelle!) foram/são dominadas por pessoas que se “fizeram” nesses dois governos (e portanto num contexto de guerra fria).
Enquanto principal conselheiro de Carter, Brzezinski era claramente mais “hawkish” e menos idealista do que o partido democrata e mesmo do que o presidente. Apoiou Bush pai (Madeleine Allbright, parte da actual equipa de Hillary Clinton, apoiou na altura Dukakis). Mais recentemente foi um dos principais críticos da “war on terror” de George W. Bush, principalmente da invasão do Iraque. Tema a retomar!
Via Wikipedia – Brzezinski é o (único) sorridente, atrás de Carter
* – Embora neste momento ache que McCain vai ganhar…
Does history repeat itself?
Será que a história repete-se? Em 1976, Gerald Ford e Ronald Reagan foram para a convenção republicana de Kansas City sem nenhum dos dois ter delegados suficientes para garantir a nomeação. Ford na altura ganhou durante a convenção o apoio que necessitava por escassa margem, mas muitos questionaram-se à saída se seria o melhor candidato. The rest is history: Ford veio a perder para Carter na eleição para Presidente, que por sua vez perdeu para Reagan em 1980.
Com uma parte considerável das primárias democratas já realizadas, os dois principais candidatos têm uma margem de diferença muito escassa – 14 milhões de votos contados e menos de 0.5% de diferença entre Hillary e Barack. Neste ambiente, e com mais de três semanas até aos próximos grandes estados (dando a oportunidade a Obama de reduzir a diferença nestes estados face a Clinton), é necessário pôr alguns pontos na probabilidade de que se venha a ter uma convenção nacional democrata sem vencedor antecipado.
Nesse cenário, importante para Hillary Clinton, como o foi para Ford, será o seu apoio no seio do aparelho do partido – 193 super-delegados até ao momento contra 106 para Obama – já para não falar na possibilidade remota de Florida e Michigan virem a ser incluídos na contagem. Se com esses apoios decisivos Clinton vencer as primárias…aí, à saída da convenção, certamente muitos se perguntarão se nomearam the wrong girl.
Uma nova tendência na imigração
George Borjas aborda uma possível nova tendência na imigração para os EUA: há um suposto êxodo de imigrantes ilegais de estados americanos que impuseram recentemente leis pesadas anti-imigração para outros que sejam mais receptivos. Borjas faz a seguinte comparação:
There’s been a debate in labor economics about whether native workers respond to the negative wage impact of immigration by moving to areas that have fewer immigrants. Now we have another question to argue over: Do illegal immigrants move to states that are more willing to ignore their presence?
Tsunami Tuesday – Republicanos
Com alguns resultados ainda em fase de confirmação, podemos tirar as seguintes conclusões iniciais e ideias para o que vem a seguir sobre a terça-feira gorda dos republicanos:
1. McCain está muito próximo da vitória.
2. Talvez esperasse que o tivesse por números mais claros. As vitórias na Califórnia, em Nova Yorque e Illinois são clarissímas e importantíssimas, mas nos estados do interior, de que vai necessitar em Novembro, tem dificuldade em penetrar.
3. Romney é o grande perdedor da noite, mesmo incluindo nestas contas os democratas. Não conseguiu ganhar com a falta de força de McCain entre os conservadores mais tradicionais e parecem ser fracos os seus números no estado da Califórnia (face ao crescendo de expectativas).
4. Huckabee renasce das cinzas. Quando menos se espera, eis que regressa em força com vitórias em Alabama, Arkansas (estado de origem), Georgia, Tennessee e West Virginia. Como Huckabee disse no seu discurso desta noite:
They said that this was a race between two. They said, and they were right…and we’re part of those two!
5. Evangélicos estão mais divididos do que se possa pensar. Polls indicam um terço para cada – Huckabee, Romney e McCain, com ligeira vantagem para o primeiro.
6. Missouri – estado normalmente associado à voz geral do país – foi também para os republicanos uma luta fraticida. McCain venceu com uma margem mínima para Huckabee logo seguido por Romney. Huckabee conseguiu os votos dos agricultores e McCain e Romney dividiram os votantes nas cidades principais.
7. McCain parece a escolha, mas Huckabee vai lhe vender cara a vitória com a sua força no Sul. Romney parece mais longe. Precisava de uma grande vitória que não teve.
8. Os republicanos têm um dilema: escolher entre alguém que acreditem, mas que perca as eleições de Novembro, ou escolher alguém de quem têm muitas dúvidas, mas que lhes pode fazer ganhar novamente a Casa Branca. A dúvida para John McCain é como que pretende enfrentar este dilema republicano – motiva-os a votar e perde o centro ou esquece-os e perde o partido?
Tsunami Tuesday – Democratas
Com alguns resultados ainda em fase de confirmação, podemos tirar as seguintes conclusões iniciais e ideias para o que vem a seguir sobre a terça-feira gorda dos democratas:
1. A corrida ainda não acabou. Hillary ainda não ganhou a nomeação democrata, o que seria uma hipótese forte há não muito tempo atrás.
2. Hillary ganha grandes estados – Califórnia e NY – e consegue um óptimo resultado em Massachusetts, respondendo com números ao apoio de Ted e Caroline Kennedy a Obama.
3. Obama ganhou mais estados (13 – Alabama, Alaska, Colorado, Connecticut, Delaware, Georgia, Idaho, Illinois, Kansas, Minnesota, Missouri (ver abaixo), North Dakota, e Utah), mas menos delegados. Alguns dos estados em que ganhou foi através do sistema de caucus.
4. Obama ganhou por larga margem em estados denominados “red states”, dando voz ao argumento que é a solução que melhor poderá combater os republicanos nas eleições de Novembro.
5. Hillary aparentemente (ainda com 20% dos votos contados, mas já como vencedora) conseguiu um óptimo resultado na Califórnia. Hillary perde entre a comunidade branca! e negra, mas ganha em grandes números nos hispânicos e asiáticos. Dois terços dos latinos (25% dos votos) optaram por Clinton. Em Nova York pesam menos (10% dos votantes), mas escolheram-na ainda em maior número – 75% Hillary. Se Obama quer ganhar o partido, necessita de ganhar esta comunidade. E não está a faze-lo.
6. Em Missouri há um impacto técnico. Com 99% dos votos contados, não há um vencedor declarado, embora Obama esteja à frente com 6500 votos de distância em mais de 800 mil. Este estado é importante por ser considerado o mais próximo da vontade geral do país. Basicamente é mais uma indicação que os votantes nas primárias democratas estão totalmente divididos entre os dois candidatos.
7. E agora? Próximos estados podem favorecer Obama – Louisiana e Nebraska dia 9, Maine caucus dia 10, e DC, Maryland e Virginia dia 12.
8. Hillary continua a ser favorita. Com a vitória clara na Califórnia, Hillary tornou uma noite que lhe poderia ter causado alguns amargos de boca num bom resultado. Algumas dúvidas para o futuro: Que estratégia para os próximos estados antes de se chegar ao Texas em Março? será para Clinton suficiente para “ganhar o partido” vencer estas eleições com vantagem mínima? O que pretende fazer a Bill se vier a liderar os democratas?
Tsunami Tuesday!!
Talvez o melhor resumo numa única página do que está em causa neste dia: número de delegados por Estado por partido, regras por Estado por partido e últimas sondagens. Provavelmente para a Califórnia teria as minhas dúvidas em colocar a sondagem da SurveyUSA (53% Clinton, 41% Obama), que contradiz (pelo menos em magnitude da diferença) as restantes sondagens.
Super Tuesday states
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Via LA Times
Obrigado por seres quem és
Sei que depois de dito parece óbvio mas foi graças ao Financial Times de hoje que percebi a razão pela qual estas primárias são tão excitantes e estão a despertar tanto interesse na américa e no mundo. Temos que agradecer a este senhor…
…que por ser quem é, e por ser como é, e por não se candidatar, faz com que esta eleição seja a primeira em 80 anos nas qual nem o presidente em exercício nem o vice-presidente vão a votos. Se a isto somarmos o facto de não existirem à partida claros favoritos, temos os ingredientes para a mais competitiva corrida à Casa Branca de que há memória.
Disfranchisement*
Tsunami Tuesday
Entre outras, a caminho do Super Tuesday 2008, vale a pena estar atento às seguintes questões nas primárias democratas:
De que lado é que vão estar os apoiantes de Edwards?
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sindicatos devem apoiar Clinton
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white males do lado de Obama
-
será que vai existir uma tendência clara?
Que consegue Obama fazer no Estado da Califórnia?
-
Obama está a contar aqui com o apoio de independentes e pessoas que até agora nunca votaram em primárias de forma a poder surpreender nos resultados. Neste momento procura cativar os latino-americanos tradicionalmente pró-Clinton.
Que impacto tem o apoio da família Kennedy em Estados como Massachusetts?
Que vai acontecer nos Estados de maior incerteza – Minnesota, Tennessee, Connecticut e em menor escala Missouri e New Jersey?
[Nos republicanos, as sondagens indicam McCain como vencedor e em muitos estados como Nova York existe a regra de que o vencedor elege todos os delegados à Convenção.]
Fresh Fish
Na sequência de mais um corte nas taxas de juro pelo FED – mostrando um determinismo sem paralelo – Ricardo Hausmann procura demonstrar neste artigo que a política monetária não é o melhor caminho para os EUA, e que o estímulo fiscal muito menos. Hausmann acredita que os EUA deve ter uma visão de médio prazo, compensando a redução do consumo doméstico com investimento interno e aumento do consumo internacional. Nas suas palavras,
Macroeconomic policy should not be based on a panicky attempt to avoid a 2008 recession at all costs but on a forward-looking strategy that achieves the needed reduction in consumption at the lowest cost in terms of the stable growth. This is not achieved by giving US households a $1,000 cheque by April, a trick that no macroeconomic textbook would argue is particularly effective. If there is fiscal room – a big if, given the weak structural position of the US government and its likely cyclical worsening – it would be better spent in accelerating investments in plant and equipment via accelerated depreciation schemes, to improve the capacity of the economy to keep on growing after the crisis. The logic behind monetary easing is also suspect. Much of it is automatic, as central banks pump in money just to keep interest rates steady. It is understandable that politicians facing a November election and bankers with a lot of their money at stake should feel that this is the worst crisis ever and have an obvious interest in exaggerating the consequences for Main Street.
Fresh Fish
Contra a corrente, um artigo optimista sobre os EUA, na Prospect, via Arts & Letters Daily.
Giuliani, a não copiar
Agora que estão iminentes os resultados das primárias no Estado da Florida, é de apontar a muito fraca estratégia de Giuliani nas primárias, a qual muito provavelmente o afastará da corrida eleitoral. Recordo que Giuliani era líder pelos republicanos nas sondagens nacionais há cerca de um mês e optou por não fazer campanha nos estados iniciais – Iowa, New Hampshire, Michigan, South Carolina – indo imediatamente para o clima mais quentinho da Florida. Fez-lhe bem ao bronze mas basicamente custou-lhe a eleição. Para além disso perdeu-se num discurso centrado no 11 de Setembro, não soube controlar as suas “falhas” como republicano , e não conseguiu reunir-se das pessoas certas.
Florida, Ilustrado II
Giuliani: “show must go on?” Se não ganhar hoje, é pouco provável
* – Sim, é mesmo ele. Mais imagens dignificantes aqui.
Lame duck President
Foi com ar bem disposto e descontraído que Bush efectuou (esta madrugada em Portugal) pela última vez o discurso do estado da nação. O discurso completo aqui. Dividiria o discurso em quatro áreas:
(1) Por favor deixem-me ainda passar isto
No tópico das novas políticas que o governo ainda quer ver aprovadas antes de sair, encontra-se para a crise imobilária a reforma da Fannie Mae e Freddie Mac (poucos detalhes), modernizar a adminstração do sector e permitir que os estados emitam obrigações para refinanciamento de créditos imobiliários. Isto para além do pacote já aprovado – não é por falta de medidas que não vão lá. Na saúde, de forma a que mais americanos tenham acesso a ela, são várias as medidas para segundo as suas palavras aumentar as opções de escolha, mas não aumentar o controlo do governo. Na educação, aumentar as bolsas. Matthew Yglesias tem umas ideias sobre o tema. Nas políticas de desenvolvimento, 30 mil milhões de dólares para o combate à SIDA. Na ciência, quer passar legislação para proibir compra, venda, cloning e PATENTES da vida humana.
(2) Por favor, não destruam as minhas construções
Nesta área, Bush pediu muito para que não voltem atrás com a descida de impostos pós 11 de Setembro, que não acabem com o apoio a grupos de fé, que se dê dinheiro ao Millennium Challenge Account, e que se continue a apoiar o esforço no Iraque (saída progressiva das tropas, 20 mil na primeira fase).
(3) Quem venha a seguir, não se importa de fazer isto
Depois de criar um elevado déficit fiscal nos últimos anos, Bush tem a coragem de afirmar “American families have to balance their budgets, and so should their Government” – desculpe, mas o timing não parece acertado com o ciclo económico. Na segurança social, pede encarecidamente que se resolva o tema. No tema da imigração, Bush acha que se resolve dentro dos ideais e leis americanos – alguém tem ideias?
(4) Que tal se olharmos a isto desta forma
Todo o discurso caberia aqui. Mas mais específico, no comércio internacional, Bush vem defender o acordo de livre comércio com a Colômbia como uma forma de mostrar aos “falsos populistas” que a liberdade é um mundo melhor – fala no discurso dos benefícios económicos, mas nas entrelinhas deixa transparecer que no fundo é por razões políticas. Na política internacional, falou meia-hora sobre o Iraque para ver se convence uns quantos que as coisas estão no bom caminho e que tudo vai acabar bem – todos vão ter inveja do excelente trabalho a caminho da liberdade que por lá foi feito e ainda lhe vão agradecer…
Quem diria que a marijuana podia definir um tipo
[W]hen I was in England I experimented with marijuana a time or two, and I didn’t like it. I didn’t inhale.”
–Candidate Bill Clinton (The New York Times, 3/30/92)
I inhaled – that was the point.
— Candidate Barack Obama (American Magazine Conference, 10/23/06)
Yes, we can
Obama em South Carolina:
Don’t tell me we can’t change.
The choice in this election is not between regions, or religions, or genders, is not between rich vs poor, young vs old and is not about blacks vs whites. This election is about past vs future!
O discurso de vitória de Obama em Iowa, no momento de surpresa em que aconteceu, foi inspirador em termos de liderança e frieza, ao mesmo tempo que cheio de orientação política para o futuro. Agora a bem mais esperada vitória em South Carolina permitiu a Obama voltar a explicar com superioridade porque ele é o caminho. O discurso rivaliza em termos de qualidade com o de Iowa e aborda (para além do sistema nacional de saúde, Iraque, crise no mercado imobiliário) o tema comum nos discursos de Obama – a união de esforços para um objectivo comum e o combate ao status quo de Washington.
Ontem falava com uma senhora muito experiente em Washington que me dizia que Obama iria criar uma clivagem tão grande com o poder instalado, que de nada seria capaz. O país íria parar. Neste discurso Obama responde a essas críticas com exemplos do seu dia-a-dia (ver parte final do discurso). Nenhum deles é explicação suficiente para nos dar a confiança total que os críticos não têm razão. Para apoiar Obama, tem de se acreditar. Either you do, or you don’t.
South Carolina, Ilustrado III
Não, não é a bandeira de um Emirato do Golfo Pérsico, é a bandeira de South Carolina
South Carolina, Ilustrado II
– “Smile honey, we need more feeling…”
– “Shut up Bill, next thing you’ll be asking me to cry”
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